O Esplendor do Caos
a partir da obra homónima de Eduardo Lourenço
co-criação a bruxa TEATRO + ASTA teatro
Sinopse
A humanidade está mergulhada num caos. O mundo chegou a um ponto onde o horror se tornou invisível. Incorporamos o inferno no quotidiano do que poderá vir a ser o mais atroz de todos os séculos, sem pânico, porque o hedonismo permanente em que vivemos, embora seja puramente decorativo e fantasmagórico, acaba por ocultar o caos.
Ao longo dos tempos, a ordem tem transformado o caos em cosmos, permitindo os vários ciclos da vida universal. Do nada se faz nova luz. Mas o que é o nada? É só a não-luz de uma luz que não teve começo nem fim ou aquilo onde tão festivamente estamos. Podemos discutir se a desordem em que estamos mergulhados desde a economia até à ética releva ou não do conceito de caos. Do que não há dúvidas é de que o habitamos como se fosse o próprio esplendor.
“O Esplendor do Caos”, obra singular escrita nos anos 90 do século passado, é o mote para um espectáculo vibrante, fragmentado, onde se cruzam linguagens, temas, reflexões e imaginações, que nos conduzem por um labirinto surpreendente em torno da pergunta “Que caos é este que habitamos?”.
Talvez não encontremos resposta para esta questão, mas vamos com certeza levantar outras perguntas. Ou não. E não faz mal.
Ficha Artística e Técnica
Dramaturgia e Direcção Marco Ferreira
Interpretação Carmo Teixeira, Danilsa Gonçalves e Elsa Pinho
Assistência de dramaturgia e de direcção Bárbara Soares
Desenho de luz Pedro Fonseca, colectivo ac
Confecção de figurinos Chissangue Afonso
Operação Técnica Duarte Banza, Pedro Fonseca, colectivo ac
Vídeo Paulo Santos
Fotografia Luís Cutileiro
Cartaz Pedro Velho
Programa Inês Palma
Comunicação Helena Ribeiro e Vanda Rufo
Produção Rui Pires e Vanda Rufo
Classificação: M/14
Duração: 60'
O teatro é um lugar de encontro, de existência (como tão bem se lê à entrada do espaço d'a Bruxa Teatro em Évora).
Um lugar onde coexistimos, um espaço de imaginário coletivo, que espelha a singularidade do ser humano.
À partida a obra de Eduardo Lourenço e, em especial o livro tão particular que é "O Esplendor do Caos", não são o substracto mais obvio para fazer nascer um espetáculo de teatro. Mas se nos detivermos a olhar, com vagar, percebemos que são exatamente os desafios da existência humana, na sua temporalidade, e os desafios do homem contemporâneo que são problematizados de forma sagaz por este pensador tão singular.
No "O Esplendor do Caos", um livro de pequenos textos de comunicações, conferências e crónicas de jornais do final dos anos 90 do século passado, vemos reflectidas as inquietações de um tempo (afinal, temporalidade é aquilo que nós somos) que longe de terem desaparecido, se tornaram mais presentes no nosso quotidiano e por isso, mais invisíveis. A globalização, a hegemonia cultural, a violência presente nos meios de comunicação, o flagelo do desemprego, a crise de valores, estão tão enraizados em nós, que já os tratamos por tu. Pegar neles e pensá-los com a ajuda das palavras de alguém mestre em problematizar as condições da existência, é um grande privilégio.
Um desafio quase impossível se não fosse a preciosa Bárbara Soares estar ao meu lado. As três atrizes, Carmo Teixeira, Elsa Pinho e Danilsa Gonçalves, três mulheres, incansáveis na descoberta deste caos e esplendor. A toda a equipa d'a Bruxa Teatro e ASTA Teatro que desde o inicio nos empurra carinhosamente para a frente. Do fim se faz princípio. Que o caos habitado neste espetáculo seja o vosso esplendor.
Marco Ferreira
“Que reclamaríamos, ou de que nos queixaríamos, quando não só a nossa capacidade de acesso a fontes de conhecimento parece sem limites, mas a solicitude de infinitos meios de comunicação nos sussurra continuamente aquilo que é útil saber em todas as ordens, desde a económica, à financeira, à política, à da prevenção viária ou da saúde, à melhor maneira de manter a forma, de cultivar a juventude eterna? (...) Simbolicamente, em matéria de informação, vivemos sob um regime de absoluto bombardeamento informativo. Assim, o que parece urgente é escapar a esse fluxo, (...). Ou, com maior dose de provocação, o direito ao silêncio."
“O que há de novo no mundo contemporâneo não é a persistência da fome, da doença, a exclusão de milhões de homens de um mínimo de dignidade, mas sim, a constatação de que esses fenómenos coexistem como espectáculo, de uma civilização dotada de todos os meios e poderes, para os abolir.”
"Neste fim de século, ao mesmo tempo que essa economia parece ter convertido o mundo inteiro numa Disneylândia de sortilégios renovados, e cada homem em consumidor de sonhos tornados acessíveis a todos, a nova ordem das coisas priva uma parte cada vez maior da humanidade de qualquer participação nessa prodigiosa máquina de produzir bens, conforto, prazer, deixando-a, não apenas em óbvio sentido económico, mas existencial, sem emprego."